#Entrevista: Aretuza Lovi confirma clipe de “Dodói” e avisa que haverá feat dos sonhos no próximo EP

Na última sexta-feira (19), a cantora drag queen Aretuza Lovi lançou seu 12º single “Dodói”, que é uma parceria com Thiaguinho MT. Aretuza aproveitou o mês do Orgulho para falar sobre amor, empatia e principalmente, quais são os próximos passos da carreira. Confira na entrevista abaixo:

Soda Pop: Como foi a recepção do single “Dodói”, após o primeiro final de semana de lançamento?
Aretuza Lovi: Foi muito legal, eu tô muito feliz com o resultado. A mensagem que eu queria passar, está sendo muito bem absorvida. Não é uma música de pista, tudo tem um momento certo, estamos com o mundo de cabeça para baixo e as pessoas precisando de amor, e realmente só o amor pode curar [parafraseando a música]. Foi feita com muito carinho, e eu não faço as coisas visando números.

SP: Seus singles são sempre com visuais coloridos e imagéticos, sentiu falta de ter um clipe para acompanhar o lançamento?
AL: Super né? Eu costumo dizer que as drags revolucionaram este mercado de clipes, este mercado videográfico. Sempre apresentamos grandes produções. Fica um vazio no coração, tínhamos tantos planos para este clipe, sabe? E fica esta lacuna, ainda mais que o grande público é acostumado de ter o single logo com o videoclipe, e isso ajuda muito a música ir além.

Infelizmente não podemos gravar este clipe, mas é por um bem necessário. É muito importante a gente estar em casa, por isso decidimos não fazer qualquer coisa, porque as pessoas também cobram se eu fizer um vídeo de qualquer forma. E eu não iria colocar a saúde dos profissionais envolvidos em risco. Existe o projeto de um clipe, que após a quarentena a gente quer lançar.

SP: Então não vamos descartar um possível clipe de “Dodói”?
AL: Não vamos descartar, inclusive eu fiz uma live com Thiaguinho MT e ele quer o clipe também. Eu e ele vamos escrever o roteiro desse clipe, ele quer participar dessa criação. Ele está dentro do projeto da música desde sempre, colocou toda uma personalidade dentro da música.

SP: Thiaguinho MT é famoso não só pelo hit do Carnaval, mas também pelo remix de “Amor de Que” da Pabllo Vittar. Podemos esperar um remix de “Dodói” também?
AL: Olha! Eu acho que nada é impossível. Eu sou muito aberta para tudo, eu quero muito trabalhar essa música. Essa música [Dodói] e “I Love Corote” é um tira gosto do que vem no EP. O EP está muito eclético, vai viajar e passar por vários ritmos e regiões. Vai ter música pra dançar, música pra chorar, música pra sentir saudades.

SP: Como foi a escolha do Thiaguinho MT para o single? Como foi a troca de experiências?
AL: Dodói foi escrita em 2018 e a gente guardou. Essa música foi escrita por mim em parceria com o trio Dogz (Pablo Bispo, Ruxell e Sérgio Santos). Escrevemos essa música antes de Geladinho (2019), e deixamos para soltar no momento certo. E chegou o momento certo, a galera está aí precisando de amor.

Eu já tinha gravado ela antes da pandemia, só que eu olhava para a música e pensava: “caraca, falta alguma coisa!”. Gravamos e deixamos ela ali para ver o que estava faltando. Aí comecei a conversar com o Thiaguinho, eu já conhecia o trabalho dele e contei que tinha uma música e se poderia mandar pra ele ver o que achava. Ele adorou de cara, e falou para a gente fazer isso acontecer. Ele devolveu a música gravada com a voz e imprimiu nela uma personalidade que é dele. O Thiaguinho tem uma voz super exótica e sensual.

O mais legal é ter artista de um meio que as vezes pode soar machista, porque a gente sabe que tem machismo em todas as áreas. E o Thiaguinho quebrou totalmente isso, ele é totalmente liberto dos preconceitos. O escritório dele deu todo um suporte, até por que ele já trabalhou com outros artistas da diversidade e estou muito feliz com esta união. E coincidiu de o lançamento ser no mês da diversidade.

SP: Você é famosa pelos feats. com quem ainda gostaria de trabalhar? Tem algum artista internacional que toparia alguma participação?
AL: Eu sou muito da cultura nacional, porém não custa sonhar um pouquinho… tem montagens que os fãs fazem e me marcam e tem umas que estou parecendo muito a Gwen Stefani, então eu fiquei com aquilo na cabeça: “se um dia eu fosse fazer featuring seria com a Gwen”. Já o nacional, eu acho que no EP teremos a realização de um sonho.

SP: Tem alguma data para o lançamento do EP?
AL: Então, desprogramou tudo por conta da pandemia. Tínhamos um cronograma, mas acredito que tudo acontece de uma forma certa. Eu lancei “Dodói” agora, vamos trabalhar as outras músicas e vamos ver. Nem que eu vá lançando ele aos pouquinho, mas ele sai! Espero que este ano ele saia.

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SP: Como a pandemia impactou e modificou o seu trabalho?
AL: Impactou totalmente, não só o meu trabalho, como o trabalho de todo mundo. Como nós trabalhamos com aglomeração, com grandes eventos, o nosso setor [entretenimento] nem sabe quando volta a trabalhar. Isso atrapalha em tudo, eu não consigo fazer shows, então eu tô tentando me reinventar dentro de casa. Colocar em prática coisas que eu gostaria de fazer e não tinha tempo. Tem dias que eu penso: “Meu Deus eu preciso trabalhar! Não só pelo dinheiro, mas por se sentir uma pessoa útil, uma pessoa proativa”.

SP: Em tempos de isolamento social, as lives para arrecadações de doações entre os artistas, foram de grande ajuda para instituições, inclusive a primeira live da Pabllo Vittar, você esteve presente, porém a falta de patrocínio e de marcas apoiadoras da comunidade LGBTQIA+ foi notada. Como você vê as marcas que só se associam em determinadas épocas ou causas? O que mais falta?
AL: Falta de empatia total, falta de respeito. Nós vivemos num país intolerante, isso não é nenhuma novidade. Tem aquelas marcas que querem estar com a gente, que acreditam numa causa não só neste mês [mês do Orgulho], porque o grande defeito é as marcas pensarem e terem aquela ideia na cabeça de que só existimos no mês de junho. Não! Nós existimos e resistimos todos os dias do ano.

Tem que fazer este filtro das marcas, das que realmente apoiam uma causa todos os dias do ano dessas marcas que não estão nem aí. Eu prefiro não ter ninguém, do que ter pessoas que só querem o pink money. Se elas não entraram é porque realmente elas não acreditam, não lutam pela causa, elas não tem empatia nenhuma. Então é melhor a gente ficar com quem está com a gente nesta luta.

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SP: No mês do Orgulho, várias lutas foram travadas, temas importantes discutidos, tais como: homofobia, racismo, doação de sangue. Como artista queer e drag queen, de que forma estas lutas impactam no seu trabalho e como você leva esta mensagem adiante?
AL: Eu como LGBTQIA+ que sofri muitos preconceitos, muitas agressões tanto física quanto psicológica desde criança, eu vivo isso e não é de hoje, a minha luta e a minha militância. Desde que eu comecei a entender que a minha história podia impactar e ajudar a vida de outras pessoas. Então a minha militância ela é diária. Tento todos os dias pensar numa forma de ajudar o próximo para que ele não passe pelo o que eu passei. Principalmente agora que muitos discursos e causas estão sendo levantados, eu procuro estudar e me aprofundar para me envolver em projetos, pra que de alguma forma eu possa ajudar.

E eu estando na frente de uma representatividade, isso me faz muito bem. Não por uma questão de visibilidade mas por uma questão de todos os dias deitar na minha cama e pensar: “eu posso ajudar a construir um mundo melhor”. Estamos neste momento de desconstrução para construir.

SP: Você como pai, qual legado quer deixar para o seu filho?
AL: Primeira coisa – ele viver num mundo diverso e entender que isso é natural. Que as pessoas são diferentes e que ele tem que respeitar, eu educo o meu filho para ser um cidadão, e pra mim a cidadania é isso: respeito, educação ao próximo, é cuidar do mundo. Eu quero que meu filho viva num mundo sem preconceitos, para que ele seja livre para amar da forma que ele quiser, ele é só um passo que vai reproduzir isso para uma grande evolução.

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SP: Você saiu do “Mercadinho”, vendeu “Catuaba”, “Corote”, “Geladinho” e agora está cuidando de quem ficou “Dodói”, como analisa sua trajetória nestes 8 anos de carreira?
AL: É uma trajetória de muitas lutas, de muitas dificuldades e muitos aprendizados, porém uma trajetória muito satisfatória de olhar para trás e dizer: “Meu Deus! Eu consegui!” Se eu parar para analisar, eu tenho até que uma trajetória rápida, eu sou uma pessoa muito abençoada. Mas isso não quer dizer que eu recebo tudo de mão beijada. Eu luto todos os dias, minha vida não é fácil. A vida de um artista independente LGBTQIA+ no Brasil não é fácil.

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Andy Santana

CEO do Soda Pop, fotógrafo, inquieto, formado em moda e que ama música. Não exatamente nesta mesma ordem!

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