Giulia Nadruz celebra seu 21º musical com a protagonista Maria, em West Side Story

A atriz, cantora, dubladora e arte-educadora Giulia Nadruz descobriu ainda na infância a vocação que tinha para a dança, através do ballet se conectou com a arte e sua diferentes vertentes, e no teatro musical conseguiu unir todas as paixões, que a projetaram não para os palcos como para as principais premiações com seus personagens icônicos, e não seria diferente desta vez, com a Maria de West Side Story (Amor, Sublime Amor). Confira nossa entrevista exclusiva com a atriz:

Soda Pop: Com tantos trabalhos na carreira, o que considera ser o grande diferencial de “West Side Story”?
Giulia Nadruz: Realmente eu tenho a honra de já ter dado vida à personagens incríveis de grandes musicais como O Fantasma da Ópera, Ghost, Barnum, Tick Tick Boom!, Cinderella, Chaplin, dentre outros. Considero todos esses trabalhos especiais, cada um à sua maneira, me trouxeram alegrias e desafios, porém West Side Story é mais que especial por vários motivos. West Side Story é uma peça revolucionária para a história do teatro musical, na forma como traz a dança e a música para dentro da dramaturgia e na forma como aborda assuntos que, na época de sua estréia, eram grandes tabus como a xenofobia, as guerras entre gangues nos bairros de NY e o machismo. Dessa forma o espectador via dentro do teatro os conflitos que existiam também do lado de fora, nas ruas da cidade. Além disso, essa obra também se fez um grande marco pela genialidade de seus criadores (Jerome Robbins, Leonard Bernstein, Stephen Sondheim e Arthur Laurents) que criaram uma obra-prima. Na minha concepção, essa obra é perfeita em todos os sentidos e tivemos a alegria de ter uma equipe criativa nacional da maior grandeza para nossa montagem (Charles Moeller, Claudio Botelho, Cláudio Cruz e Mariana Barros), sem falar numa equipe dos sonhos criando cenários, figurinos, visagismo, som, luz e um elenco de artistas incríveis perfeitamente escalados em cada papel. Para mim, enquanto atriz e cantora, Maria é um presente, um prato cheio de emoções, nuances, profundidade e canções divinas. É sem dúvida um ponto alto na minha trajetória artística.

Guilherme Logullo e Giulia Nadruz em West Side Story (Amor, Sublime Amor) – (Foto: Heloísa Bortz)

SP: Maria é inspirada na famosa Julieta Capuleto, do clássico de Shakespeare, escrito no final do século XVI. O que você acha que faz dela uma personagem atual?
GN: Eu já conhecia a obra Romeu e Julieta e outras de Shakespeare, mas quis mergulhar a fundo no universo deste grande dramaturgo para compreender melhor a história e suas personagens. Algo muito interessante das histórias de Shakespeare é que, apesar de se passarem há centenas de anos, elas abordam questões universais e essenciais da natureza humana e seus conflitos de relacionamento. Maria, assim como Julieta, é uma jovem superprotegida pela família, mas cheia de vida e personalidade, que anseia por crescer, descobrir seu caminho, conhecer o amor. Ela, dentro da sua ingenuidade otimista, faz de tudo para que o amor possa superar a violência, a raiva e as disputas de poder que rodeiam a sua realidade. Ela luta para decidir o próprio caminho de sua vida dentro de uma sociedade patriarcal e castradora e amadurece pela dor dos desígnios do destino.  Acredito que, por todos esses motivos, essa personagem se mantém atual, ela poderia facilmente existir aqui e agora.

SP: Consegue enxergar semelhanças e diferenças entre você e Maria? Se sim, quais?
GN: Eu me identifico bastante com a personagem. Me identifico com seu entusiasmo, sua inquietação, sua força interior, sua forma ativa e apaixonada de encarar a vida, sua impaciência e principalmente por enxergar o amor como a coisa mais importante da vida. Entretanto, acredito que eu não seja tão impulsiva e ingênua como ela, pelo menos não mais. rsrs

Giulia Nadrux como Maria em West Side Story (Foto: Heloísa Bortz)

SP: Este musical é bem conhecido por sua complexidade, seja na execução das coreografias ou no alcance das notas. Para você, qual o maior desafio?
GN: Meu maior desafio nesse musical é na parte vocal e de atuação. O repertório da Maria é famoso pelas suas notas absurdamente agudas, não em uma canção, mas em todas! rsrs E ela canta bastante no espetáculo, passeando pelos pianos e fortíssimos, tenho uma grande demanda técnica diária e tenho que estar sempre em perfeitas condições vocais. Somado a isso, Maria tem cenas hiper dramáticas, especialmente no segundo ato da peça, que demanda uma entrega muito grande como atriz para trazer a verdade e profundidade necessárias para contar sua história, cenas repletas de gritos e choros. Encontrar esse ponto de equilíbrio não é nada fácil.

SP: Qual seu momento preferido do espetáculo?
GN: Resposta muito difícil rsrs!. Eu amo vários momentos da peça, todas as canções são lindas de viver. Das cenas em que estou, adoro a delicadeza da clássica cena do balcão com Tony, mas também amo a dramaticidade do dueto com Anita (A Boy Like That/ I have a Love) e da cena final. Amo também o quinteto do final do primeiro Ato e temos números icônicos como América e Cool que eu não canso de assistir!

SP: Você e Beto já estiveram em outros espetáculos juntos, como “Mamma Mia” e “Shrek”. Como tem sido esse reencontro nos palcos, tantos anos depois?
GN: Nós praticamente começamos juntos em ‘Mamma Mia’, éramos adolescentes ainda, e foi lindo acompanhar o crescimento do Beto enquanto artista e pessoa. Somos amigos desde então, nos admiramos muito profissionalmente e sempre torcemos pelo sucesso um do outro. Tivemos o prazer de trabalhar juntos de novo em Shrek, mas quase não contracenávamos. Sabíamos que esse momento iria chegar, e chegou dessa forma tão especial como Tony e Maria. Adoro ter o Beto como meu parceiro de cena, é muito bom quando temos a sorte de ter uma parceira assim repleta de cumplicidade e admiração. Sou fã. <3 

Giulia Nadruz e Beto Sargentelli (Foto: Heloísa Bortz)

SP: Considerando todas as reflexões que a obra desperta. Qual diria que é a principal mensagem que “West Side Story” passa hoje em dia?
GN: Infelizmente, desde os tempos de Shakespeare, desde muito antes, na verdade, o mundo sofre com a intolerância, a violência e a luta pelo poder. Na nossa peça, as gangues só se unem depois que toda a tragédia acontece, depois que tudo muda pela força do amor. Que essa peça possa deixar a mensagem que o amor e a empatia são a cura para todos os males da humanidade, e que as tragédias não sejam necessárias para que haja a transformação.

Confira também nossa mesma entrevista com o protagonista Beto Sargentelli que faz o Tony no West Side Story.

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Andy Santana

CEO do Soda Pop, fotógrafo, inquieto, formado em moda e que ama música. Não exatamente nesta mesma ordem!

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